Dois papas e um mundo inteiro de diferenças

Dois Papas, filme de Fernando Meirelles
Fonte: divulgação

Dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles (Cidade de Deus), o filme Os Dois Papas retrata a transição entre os papas Bento XVI e o papa Francisco no ano de 2013. Nesta premiada produção, os personagens são protagonizados por Anthony Hopkins e Jonathan Pryce. Os dois papas não poderiam ser mais diferentes. Grosso modo, é como se estivéssemos assistindo a um duelo entre a “velha” e a “nova” igreja católica. Enquanto Bento XVI luta para resistir a mudanças, Francisco (Bergoglio) acredita que elas sejam necessárias. A história do filme começa no ano de 2005, quando Bento XVI (Ratzinger) é eleito papa e Francisco, da Argentina, fica em segundo lugar.

Esse é só o começo da dinâmica entre os dois. Tempos depois, numa visita à residência de verão do papa, Bergoglio recebe da boca de Ratzinger a notícia de que seria um bom sucessor ao trono papal. Essa ideia causa confusão, já que o motivo da visita do argentino era discutir sua aposentadoria. Conforme o filme avança, as diferenças entre os dois só aumentam. O argentino faz amigos por onde passa, assiste a jogos de futebol e por vezes utiliza roupas nada formais. Ratzinger é muito mais formal e contido. Num dado momento, Bento XVI vê seu jardineiro oferecendo ervas de presente a Bergoglio, coisa que nunca havia sido oferecida a ele. Aqui, ficam claras as diferenças no trato social entre o argentino e o alemão, que parece viver cada dia mais isolado.

Atenção especial aos detalhes

Em alguns momentos, o filme traz imagens reais, o que o aproxima de uma produção documental. Há vestígios disso no estilo, como a câmera que treme ou as imagens com poucos filtros. Esse tratamento estético produz o efeito de aproximar o expectador dessas figuras religiosas, e por vezes dá impressão de ser uma câmera escondida que tudo vê, ou um mockumentary ao estilo de produções como The Office. O resultado é um barato.

Outro ponto positivo é o enfoque à biografia de Bergoglio, que mais tarde assumiria como papa Francisco. Assistimos ao início da carreira de Bergoglio em subúrbios da América do Sul, momento em que o filme adota diferentes estilos como imagens em preto e branco. Tudo isso sem falar, é claro, da atuação. Pryce e Hopkins são duas lendas do cinema, e dão um show. É um primor vê-los na tela conversando sobre religião ou qualquer outra coisa, sempre deixando entrever as diferenças culturais entre um religioso alemão e outro argentino.

Já nos créditos, há uma pérola que não pode ser esquecida. Os dois papas assistem juntos à final da Copa de 2014 entre Argentina e Alemanha, quando os alemães sagraram-se campeões. Os dois papas bebem, torcem e se divertem juntos, talvez o único momento do filme em que parecem meros mortais.

 

 

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